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São Paulo quer segurança como realidade

Alguma coisa acontece no coração de São Paulo, longe ou perto daqueles que de alguma forma cruzam a Ipiranga e a Avenida São João. Distante do romantismo saudosista de Caetano Veloso, a sociedade de lá a cada semana se entristece, ou de alguma dor padece, tal é a onda de sinais de violência espalhada e sem fim. O povo não é oprimido, mas nas filas, nas vilas e nas favelas, muita gente de lá já não pode curtir numa boa.

Vitória Regina de Souza, de 17 anos, assassinada com requintes bestiais dias atrás, não morava na capital, mas a forma como perdeu a vida com certeza potencializa o grau de pânico da população. Pesquisas, tecnologias avançadas, imagens de drones, aumento do contingente policial e todas as providências que a situação exige parece que estão em andamento. Mas, à luz da razão, o placar ainda é favorável aos marginais.

A estatística não falha, é precisa e verdadeira. Nunca na história de São Paulo um índice tão alto de registro de casos de violência contra pessoas de todas as classes foi comprovado. Da força policial acontecem os chutes, pontapés, socos no estômago e nas costas de gays, de pobres e pessoas negras. Entre as vítimas também muitos marginais e desocupados, que perturbam a ordem. Mas não podem ser espancados e tratados como sacos de batatas.

Pouco tempo atrás as imagens de câmeras de rua, e de celulares, mostraram ao Brasil o comportamento absurdo e inaceitável de um elemento da PM paulista, atirando uma pessoa do alto de uma ponte. O policial foi preso, diz a PM, mas dele não se tem mais notícia.

Não pode e não deve ser considerado normal a polícia atirar pessoas do alto de uma ponte, como também não se pode admitir que qualquer detido pela polícia seja pisoteado, esmurrado, muitas vezes já rendido e estirado no chão. Não é exagero dizer isso, a mídia e imagens da própria polícia apresentam essas provas quase que diariamente nas ruas da capital e do estado. A adolescente Vitória Regina, antes de morrer, relatou a uma amiga pelo celular seus últimos minutos de medo.

O caso é macabro, mais um que deixa a comunidade assustada e insegura. Segurança pública e garantia de tranquilidade de vida ao cidadão devem e têm que ser, talvez, a principal responsabilidade do estado. A cobrança que se faz é que é evidente o aumento no índice de criminalidade em todas as regiões da cidade, e a ação dos órgãos de segurança resvala na fragilidade e escancara uma derrota difícil de esconder.

Não faz muito tempo, o governador Tarcísio de Freitas, disse não estar nem aí para os atos mais agressivos da sua Polícia Militar.
Parece ter mudado de ideia, e também voltou atrás ao reconhecer a importância e a utilidade de câmeras de filmagens nos uniformes dos policiais.

Por mais que as pessoas aceitem e entendam que o gigantismo de uma cidade como São Paulo exija um trabalho intenso e volumoso, não há como viver em paz tendo o medo como companhia. Imagens nítidas de câmeras de segurança próximas ao Parque do Povo, na Zona Sul da capital, mostraram no final do ano de 2024 cenas explícitas do assassinato do engenheiro Vitor Medrado, que estava usando o celular enquanto pedalava. O mesmo motoqueiro que o matou também atirou em outra pessoa em uma rua próxima ao parque.

O nosso maior cartão de visitas aos olhos do mundo carece de uma atenção bem maior do que a esperada. Para aqueles que  visitam São Paulo, que aprendam rápido o que é realidade. Se isso acontecer pode ser ruim, mas é bom.

José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais

"Os artigos publicados nesta seção não refletem, necessariamente, a opinião do PlatôBR."

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