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‘Se depender de mim, não tem mais medida fiscal’, diz Lula

Em conversa com jornalistas, presidente tenta minimizar ruídos com o mercado, defende alta de juros e diz que o ministro Haddad deveria "ser elogiado" em vez de criticado pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva
Foto: José Cruz/Agência Brasil

O presidente Lula tentou aliviar ruídos na economia ao defender o ministro Fernando Haddad (Fazenda) dos ataques de políticos da própria base do governo, ao reafirmar liberdade para aumentar juros do seu pupilo Gabriel Galípolo, que acabou de assumir o comando do Banco Central, e ao pregar responsabilidade fiscal como algo importante para seu governo. No entanto, ao mesmo tempo em que disse que se houver necessidade de reforçar o ajuste fiscal vai reunir o governo para discutir, foi taxativo: “se depender de mim, não tem mais medida fiscal”.

Para os analistas de mercado, na segunda metade do governo, presidente nenhum irá se comprometer com reformar estruturais. Nesse ponto, a fala não gerou surpresa. Porém, também não ajudou a desfazer um ponto sensível para o mercado: a visão de que sem um controle mais forte dos gastos públicos este ano, dificilmente, haverá espaço para o BC parar de subir os juros. A taxa Selic é o principal instrumento à disposição da autoridade monetária para desacelerar a economia e, assim, controlar a inflação que fechou 2024 em 4,83%, acima do teto fixado pelo próprio governo.

Durante 1h15 de conversa com os jornalistas que acompanham a agenda no Palácio do Planalto, Lula destacou medidas que vão na contramão do trabalho do BC para desaquecer a economia como o acordo com os bancos para reduzir os juros dos empréstimos consignados. O presidente reafirmou o compromisso de crescimento econômico com inclusão social na sua gestão e destacou 2025 como o momento para começar a colheita do que foi plantada em 2023 e 2024.

O problema é que nessa plantação está uma inflação em alta e taxa de câmbio batendo o pico histórico que alimenta mais inflação. Segundo o presidente, Galípolo vai “fazer o que tiver para entregar a inflação mais baixa e o juro mais baixo”. Para isso, garantiu que o presidente do BC terá total autonomia para trabalhar. Para Lula, a alta de 1 ponto percentual anunciada nesta quarta-feira pelo BC foi contratada pelo ex-presidente da instituição Roberto Campos Neto, seu desafeto pessoal.

“Sabia que o BC não pode dar um cavalo de pau num mar revolvo de uma hora para outra”, afirmou. “Galípolo fez o que tinha que fazer e tenho 100% de confiança no trabalho do BC”, completou.

O presidente também defendeu o ministro Fernando Haddad de duras críticas feitas por Gilberto Kassab, presidente do PSD, partido que integra a base de apoio do governo. Em evento com investidores, na quarta-feira,29, Kassab disse que Haddad é um “ministro fraco” e que se as eleições fossem hoje, dificilmente Lula ganharia o pleito.

Segundo Lula, o presidente do PSD “foi injusto” com o ministro da Fazenda que classificou como “um ministro extraordinário”. “Haddad deveria ser elogiado por Kassab”, afirmou.

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