Os avanços tecnológicos das últimas três décadas revolucionaram a comunicação, com a pujança da internet e a criação de novos mercados. O desenvolvimento e os desafios para os negócios no ambiente virtual foram tema do fórum “Segurança na publicidade digital – desafios e responsabilidades compartilhadas”, que o PlatôBR promoveu em Brasília nesta terça-feira, 21, em parceria com o Google.
A palestra de abertura ficou a cargo do diretor da Equipe de Produtos de Segurança do Google Ads, Jordan Breckenridge, que destacou os desafios e a necessidade de garantir segurança nas transações digitais para empresas, consumidores e prestadores de serviço. Segundo ele, essa tarefa deve ser compartilhada tanto pelas empresas quanto pelos órgãos públicos.
O tamanho desse desafio é traduzido pelos números. Estimativa da Aliança Global Antifraude apresentada por Breckenridge aponta que o prejuízo dos brasileiros com golpes virtuais totalizou pelo menos US$ 54 bilhões em 2024. Além disso, sete em cada dez internautas sentem que o número de tentativas de golpe aumentou no último ano e acreditam que sabem identificar fraudes. Entretanto, um em cada quatro não reconheceram os golpes no momento em que foram vítimas.
“Definitivamente, é necessário que a responsabilidade para coibir e investigar essas fraudes seja compartilhada entre governos e empresas. Garantir segurança no ambiente digital é uma tarefa de todos”, disse o executivo do Google.
Breckenridge ainda participou do primeiro painel do evento, que contou com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, para debater as estratégias e ações em curso no Brasil e no mundo para garantir a segurança e evitar fraudes nas transações digitais, seja na publicidade ou nos meios de pagamento.
Segundo Rodrigues, a PF tem investido no treinamento de policiais para enfrentar as inúmeras modalidades de golpes virtuais que têm se sofisticado a cada ano. Se antes cada fraude resultava na abertura de um inquérito, com foco nas vítimas, as investigações passaram a analisar os padrões repetitivos usados pelos bandidos.
“Agora, se 50 pessoas foram vítimas daquele golpe, nós reunimos tudo em um inquérito para direcionar esforços para prender os criminosos. Temos investido para que os nossos policiais tenham as habilidades e capacidades necessárias para solucionar as diversas modalidades de fraudes digitais”, disse o diretor-geral da PF.
Durante o evento, o Google lançou o jogo “Evite Fraudes”, uma iniciativa da empresa para melhorar a capacidade do usuário de identificar golpes virtuais. Abhishek Roy, pesquisador de Experiência do Usuário do Time de Confiança e Segurança do Google, afirmou que apenas dar mais informação às pessoas geralmente é insuficiente, pois os golpistas induzem a um forte apelo emocional. “O jogo aumentou a capacidade do usuário de identificar cenários de golpe em maior grau do que as campanhas de conscientização geral”, destacou.
Segurança dos anúncios
Coube ao líder global de Segurança de Anúncios do Time de Políticas Públicas do Google, David Caragliano, e ao líder global de Confiança e Segurança do Google, Andrew Mantilia, apresentar uma análise sobre anúncios e como a empresa tem atuado para garantir a segurança desse serviço. Segundo Caragliano, é missão da companhia organizar as informações do mundo e torná-las universalmente acessíveis e úteis. “Bilhões de pessoas acessam o Google em busca de informações precisas. Nosso negócio depende da confiança delas”, disse.
Caragliano ainda afirmou que a fiscalização contra anúncios, conteúdos e atores ruins continuou a aumentar nos últimos anos. Em 2021, em todo o mundo foram removidos 3,4 bilhões de anúncios e 5,6 milhões de contas de anunciantes foram suspensas. Em 2023, também considerando dados de todos os países onde o Google tem operação, foram removidos 5,5 bilhões de banners de publicidade, com a suspensão de 12,7 milhões de clientes.
No Brasil, em 2024 o Google removeu 201,2 milhões de anúncios e suspendeu 1,3 milhão de contas. Entre as principais violações de políticas identificadas pela empresa estavam irregularidades relacionadas a marcas registradas e jogos, incluindo os de azar.
Mesa-redonda
Para encerrar o evento, uma mesa-redonda discutiu como a iniciativa privada e o setor público podem construir mecanismos de defesa e prevenção para evitar fraudes no ambiente digital. Participaram o secretário nacional do Consumidor do Ministério da Justiça, Paulo Pereira, a secretária-adjunta de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Nina Fernandes dos Santos, a vice-presidente executiva do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, Juliana Albuquerque, e Natália Kuchar, advogada corporativa do Google.
Pereira afirmou que os crimes digitais penalizam a população mais vulnerável no Brasil, como idosos e famílias mais pobres, que perdem parcela significativa da renda quando são vítimas de um golpe virtual. “Isso ganhará ainda mais centralidade no trabalho da Senacon e nosso foco é construir um sistema de ação que envolva o mundo público e o mundo privado”, pontuou o secretário.
Nina disse que a Secom atua no tema da segurança digital por meio do combate à desinformação. Segundo ela, o governo trabalha para ajudar a evitar que conteúdos enganosos ou fraudulentos circulem nas plataformas digitais. “Evidentemente, precisamos fazer esse combate no varejo, mas há um problema sistêmico e estrutural que deve ser combatido no atacado. O ambiente de desinformação é um ambiente propício para fraudes e golpes. Esse ciclo é vicioso”, disse.
Juliana Albuquerque afirmou que, para além do combate a fraudes digitais e desinformação, há um debate necessário sobre ética digital que tem total relação com o desenvolvimento da publicidade por meio de influenciadores e criadores de conteúdo. “Essa discussão dentro da educação midiática é essencial e vai empoderar as pessoas a entenderem o que é um golpe ou uma publicidade ruim”, disse.
Natália Kuchar lembrou que, assim como o Google foi criado para organizar informações para as pessoas, os produtos de publicidade têm a mesma missão. “Nossa tecnologia busca levar a publicidade para quem interessa. Temos que buscar um ciclo virtuoso encarando a entrega publicitária como uma entrega não só para os anunciantes, mas também para os usuários”, destacou.