Pouca gente, ou quase ninguém, sabe que os americanos estão preocupados com o que acontece na periferia de Brasília. Sem nenhuma intenção de fazer gracinha, essa preocupação dos gringos com o que acontece no nosso quintal, é preocupante. Em publicação no site da Embaixada, o País de Donald Trump alerta a seus funcionários e conhecidos que evitem, de alguma forma, frequentar quaisquer ambientes nas cidades de Ceilândia, Santa Maria, São Sebastião e Paranoá.

Essas cidades, segundo a Embaixada, oferecem riscos de sequestro, assaltos, violência e crimes de toda ordem, lembrando a todos eles que a utilização do transporte coletivo também oferece risco. A orientação vem com a chancela “Aviso de viagem”, assinada pelo Departamento de Estado americano.

De pronto, e com visível manifestação de revolta, o governador de Brasília, Ibaneis Rocha, se disse surpreso com a manifestação dos americanos, citando que o ato é inconsistente, sem nenhuma fonte segura de informação e não merece crédito. O que motivou a publicação da mensagem não está claro e não há justificativa, se esquiva de dados técnicos e não entra em detalhes do mecanismo aplicado para que se chegasse à conclusão, no mínimo, precipitada.

Dados oficiais do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – apontam que Brasília tem hoje 62 favelas e comunidades urbanas. A Favela do Sol Nascente, que fica em Ceilândia, tem hoje 32 mil domicílios e cerca de 70 mil habitantes. É a segunda do país em número de domicílios, perdendo apenas para a Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, com 72 mil domicílios. Paraisópolis, em São Paulo, chega a 58 mil. Em Ceilândia estão cerca de 10 mil famílias em condições de extrema pobreza.

Mesmo com números tão expressivos e preocupantes do ponto de vista social, informações confirmadas pelo Atlas da Violência, Brasília é a segunda cidade brasileira mais segura do País. A primeira é Florianópolis, capital de Santa Catarina. Com alguma euforia, a Secretaria e Segurança Pública confirma que no ano de 2024, após 48 anos, a cidade registrou uma baixa significativa em número de homicídios.

Foram vitimadas 245 pessoas, um número alto, mas bem abaixo do que o do ano anterior, quando 284 pessoas foram assassinadas. Uma queda de 13% no montante total, o que pode significar uma evolução nos métodos de segurança ao cidadão, bons resultados no uso da tecnologia e correção do trabalho profissional do policial. Brasília, a Capital da República, tem hoje quase três milhões de habitantes e somente em Ceilândia estão mais de 350 mil pessoas.

Ao que se sabe, a Embaixada Americana não entrou em detalhes para justificar tanta preocupação com a segurança de seus amigos e funcionários, quando em visita a essas comunidades. No que cabe a Brasília, como capital da República, é fato que todos reconhecem que há sim problemas de segurança em muitas de suas regiões. E as providências para que se ache meios eficientes para amenizar o transtorno da comunidades estão sendo adotadas. Se algum americano quiser ajudar, será bem vindo. Mas de forma mais profissional, de preferência.

José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais