Sem qualquer sinalização de equilíbrio fiscal no curto prazo, o Brasil se beneficia de uma desaceleração da economia dos Estados Unidos e de uma perspectiva de queda de juros por lá para atrair capital estrangeiro para o país, o que tem barateado o preço do dólar. No mercado há quem arrisque projetar que valor da moeda norte-americana pode baixar para valores próximos de R$ 5,10 até dezembro.

Investidores têm se antecipado ao início do processo de queda de juros pelo banco central americano, o Fed (Federal Reserve), para buscar maior rentabilidade em mercados emergentes. A expectativa é de que uma redução de 0,25 ponto percentual seja anunciada na próxima quarta-feira, 17. 

A economia brasileira se beneficia desse processo, pois a expectativa no mercado é de que a taxa caia nos Estados Unidos duas ou três vezes consecutivas, enquanto a Selic deve ficar inalterada em 15%, pelo menos até janeiro de 2026. Nesse cenário, o diferencial de juros atrai recursos para os ativos brasileiros e barateia o preço do dólar, que fechou cotado em R$ 5,321 nesta segunda-feira, 15, e já acumula queda de 15% no ano. 

Apesar da euforia no mercado, há quem pregue um pouco de cautela nessa avaliação. O economista-chefe do banco Pine, Cristiano Oliveira, alerta para o risco de uma decisão dividida entre os diretores do Fed quando anunciarem a queda de juros e aponta que três fatores pesam nessa análise.

Segundo Oliveira, um grupo de diretores avalia que a relativa fraqueza do mercado de trabalho norte-americano favorece o corte de juros. Um outro núcleo defende que a inflação corrente e as expectativas acima da meta são fatores para manter os juros inalterados. O terceiro fator é a pressão política do governo Donald Trump, que cobra cortes mais rápidos, critica publicamente o presidente do Fed, Jerome Powell e tenta interferir na composição da diretoria da autoridade monetária.

“Historicamente, dissensos no FOMC [o Copom dos Estados Unidos] tendem a gerar forte volatilidade nos mercados financeiros. Isso acontece não apenas porque revelam divergências de diagnóstico entre os formuladores de política monetária, mas também por aumentarem a incerteza quanto ao curso futuro da taxa de juros. Essa incerteza afeta expectativas de inflação, curva de juros, câmbio e preços de ativos de risco”, disse o economista.

Para Oliveira, o atual ritmo de criação de postos de trabalho nos Estados Unidos não justifica corte da taxa de juros, sobretudo porque a taxa de desemprego permanece abaixo do nível considerado estrutural e, portanto, ainda pressiona a inflação. Além disso, a depreciação do dólar global, a restrição à imigração e o crescente déficit fiscal são vetores adicionais de pressão inflacionária.

“Ainda assim, avaliamos que a maioria do Comitê deverá optar por um corte de 0,25 ponto percentual em 17 de setembro e sinalizar a possibilidade de outro corte de mesma magnitude ainda em 2025. Essa decisão, porém, tende a implicar custos: inflação mais persistente e redução do crescimento potencial do PIB em horizonte não muito distante”, disse.

Outro risco que pode afetar o preço do dólar é a ameaça do secretário de Estado americano, Marco Rubio, de dar uma “resposta” à condenação pelo STF do ex-presidente Jair Bolsonaro, na semana passada, em decorrência da trama golpista.