Senadores da Comissão de Relações Exteriores do Senado que estão em Washington admitem ser muito difícil resolver a questão do tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump às exportações brasileiras, previsto para vigorar no dia 1º de agosto. Os parlamentares foram aos Estados Unidos para tentar influenciar empresários e congressistas americanos a se posicionarem contra a sobretaxa de 50% anunciada por Trump.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também apontou dificuldades na tentativa de negociação. “A gente sai para pescar todo dia, nem todo dia pesca um bom peixe. Mas, se não sai para pescar, não leva peixe nunca. Nós estamos vindo, abrindo portas, conversando”, disse o petista a jornalistas, nesta terça-feira, 29.
O presidente da comissão, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), evitou previsões otimistas em relação aos resultados das conversas. “Essa missão é o primeiro passo de uma reaproximação institucional entre os parlamentos do Brasil e dos Estados Unidos. A gente sabe que não é aqui que vamos resolver o problema das tarifas, mas viemos mostrar que o Senado brasileiro está disposto a abrir o diálogo e construir pontes”, disse o senador, na segunda-feira, 28, após se reunir com membros da U.S. Chamber of Commerce, organização empresarial de todos os setores da economia norte-americana.
Drible
Nesta terça, a comissão tenta driblar ações do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), que tenta esvaziar a agenda de conversas com congressistas americanos. Essa é considerada a parte mais crítica da viagem e os nomes dos parlamentares contatados estava sendo mantido em sigilo para evitar interferências do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ).
Os senadores estão percorrendo gabinetes com o objetivo de convencer os americanos dos efeitos nocivos da sobretaxa para empresas brasileiras e americanas. Um dos nomes que, segundo Trad, aceitou conversar foi o senador democrata Martin Heinrich, do Novo México. Na conversa com ele, o parlamentar brasileiro pretende apresentar o que chamou de relato “perde, perde” da medida anunciada por Trump e um convite para que ele possa visitar o Brasil.
“Essa vai ser a dinâmica com todos os parlamentares visitados. Cada um deles vai receber a implicação dessa medida para o estado que ele representa”, afirmou o senador em um vídeo divulgado pela assessoria de imprensa da viagem.
Telefonema de Lula
Na segunda-feira, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) defendeu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefone para Trump para tentar uma negociação. Ela também admitiu a incapacidade da viagem em produzir resultados. “Sabemos que não cabe ao Legislativo negociar tarifas, mas estamos fazendo a nossa parte. Hoje nos encontramos com empresários brasileiros e americanos numa verdadeira força-tarefa pelo nosso país. Acreditamos que nenhuma ideologia pode falar mais alto que o bom senso e o compromisso com o bem-estar de brasileiros e americanos”.
Na opinião da parlamentar, que foi ministra da Agricultura no governo Jair Bolsonaro, o presidente Lula se recusa a se aproximar do presidente Trump e caberia aos senadores, “representantes responsáveis do povo”, fazer “o possível e o impossível” para defender os interesses do nosso país nos Estados Unidos.
De acordo com fontes do governo, a possibilidade de Lula telefonar para Trump não é totalmente descartada, mas há um temor de que Lula poderia ser tratado de forma desrespeitosa por Trump, como ocorreu em audiências com os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Esses interlocutores também entendem que o gesto pode ser inócuo, pois as motivações do presidente americano avançam além do escopo econômico e interferem em questões internas do país ao tentar evitar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em Nova York, onde participa de uma reunião sobre a questão palestina na Organização das Nações Unidas, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se colocou disponível para um encontro com o o secretário de Estado, Marco Rubio, e aguarda um retorno dos americanos sobre a possibilidade de uma conversa.