A saída de Juscelino Filho (União Brasil) do Ministério das Comunicações é, para o governo Lula, um empate com sabor amargo de derrota.

Em 2023 e início de 2024, Lula tolerava a presença de ministros suspeitos de corrupção, desde que não enfrentassem uma investigação formal da Procuradoria-Geral da República. Disse ele: "Sabe o que eu falo para os meus ministros quando acontece uma denúncia contra eles? Chamo eles na minha sala e falo: 'Olhe, a verdade absoluta só você que sabe. Ninguém sabe. Você e Deus'. Então, eu quero que você me diga. Se você fez, peça licença e vá embora. Se você não fez, brigue, porque se a gente não brigar, é destruído".

Essa postura autorizava, para ouvidos muito seletivos, que ministros que se consideram inocentes permanecessem no cargo. No entanto, Lula também estabeleceu limites claros ao afirmar que "se o procurador (geral da República) indiciá-lo, você tem que mudar de posição" e "se for aceita a denúncia ele vai ser afastado, ele sabe disso".

Lula cumpriu sua palavra nesta terça-feira, 8 de abril de 2025, quando Juscelino Filho pediu demissão após ser denunciado formalmente pela PGR por suposto desvio de emendas parlamentares. Perdendo a chance de demonstrar intolerância à corrupção fora do PT e conquistar elogios de editorialistas conservadores, o presidente preferiu que o ministro pedisse para sair, evitando ter que demiti-lo diretamente, conforme relatado pela imprensa.

Com uma postura mais abertamente cínica, Lula poderia ter capitalizado politicamente a permanência de Juscelino Filho. Poderia argumentar que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apressou-se ao denunciar o ministro. Poderia defender que emendas parlamentares constituem prerrogativa legítima dos congressistas, que não precisam fiscalizar como prefeituras ou ONGs gastam esses recursos. Isso caberia aos órgãos de controle como o Tribunal de Contas da União e a Controladoria-Geral da União.

Essa estratégia lhe renderia pontos tanto com o União Brasil (cujo apoio necessita para sua difícil tentativa de reeleição) quanto com os demais parlamentares, que enxergariam um semipresidente cônscio do poder que perdeu – exceto ao mimar petistas com excesso de cargos e infinita tolerância.

Cientistas políticos poderiam até chamar isso de "movimento ao centro" e não estariam errados. Cuidado: cinismo contagia.

Sérgio Praça é doutor em Ciência Política pela USP. Publicou, entre outros, os livros “Guerra à Corrupção: Lições da Lava Jato” e “Corrupção e Reforma Orçamentária no Brasil”