Às vésperas da COP30, o governo anunciou um fundo de US$ 1,4 bilhão para impulsionar o hidrogênio verde, mas enfrenta críticas do próprio setor que busca atrair. A Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (Abihv), que reúne 38 empresas com R$ 110 bilhões em projetos previstos, se posicionou contra o projeto de lei, que, entre outras coisas, impõe a chamada “adicionalidade energética”. O texto é derivado da Medida Provisória que implementou mudanças regulatórias no setor de energia.

A regra obriga novos empreendimentos a contratar energia apenas de usinas novas, desconsiderando o parque hidrelétrico existente, que tem base de uma matriz já 90% limpa. Para a entidade, a exigência anula a principal vantagem competitiva do país e encarece projetos eletrointensivos, como os de hidrogênio verde e data centers, em um momento de excesso de geração elétrica.

Para a Abihv, o governo vive um paradoxo: “cria um fundo para reduzir riscos e, ao mesmo tempo, aprova uma medida que os multiplica”.

O alerta reforça um ceticismo crescente entre investidores. Como mostrou a coluna, desde 2022 o setor privado observa com reserva os sucessivos anúncios oficiais e o ritmo lento de amadurecimento dos projetos. No fim de setembro, fontes do setor já apontavam que o hidrogênio verde “ainda não compete nem com gás natural, nem com outras matrizes”, cobrando regras estáveis e incentivos claros para viabilizar escala industrial.