KUALA LUMPUR – Após decolar de Washington rumo à Ásia, Donald Trump confirmou que pretende se reunir com o presidente Lula e disse que, “sob as circunstâncias certas”, pode rever as tarifas impostas aos produtos brasileiros.

Trump fez a afirmação durante conversa com jornalistas a bordo do Air Force One. Assim como Lula, o presidente americano participará a partir deste fim de semana, como convidado especial, da 47ª reunião de cúpula da Asean, a associação que reúne dez países do sudeste asiático. A reunião ocorrerá em Kuala Lumpur, capital da Malásia.

Não estão claras, ainda, quais são as tais “circunstâncias certas” que Trump levará para a conversa. De todo modo, a declaração evidencia que o americano fará exigências a Lula para rediscutir o tarifaço. A depender de quais serão essas exigências, são grandes as chances de a esperada trégua na maior crise entre Brasil e Estados Unidos em duzentos anos de relações diplomáticas ficar apenas na expectativa.

Se não houver mudança de última hora, o encontro de Lula com Trump deve ocorrer no final da tarde deste domingo, 26, no horário da Malásia (11 horas à frente de Brasília). Os dois devem conversar, entre outros assuntos, sobre o tarifaço e as sanções impostas pela Casa Branca a autoridades brasileiras.

Lula, que gosta do papel de antagonista de Trump na cena global e há algum tempo vem se mostrando disposto a fazer críticas ao republicano que outros líderes evitam, já sinalizou que pretende ser franco na conversa. Declarou, por exemplo, que ambos devem estar dispostos a, inclusive, ouvir o que não querem.

A afirmação de Trump sobre a disposição de rever o tarifaço “sob as circunstâncias certas” veio a público minutos depois de um discurso de Lula ao lado do primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, no qual o presidente brasileiro fez declarações que podem ser lidas como cutucões no colega americano, mesmo sem citá-lo diretamente.

Lula voltou a defender o multilateralismo nas relações internacionais, criticou quem se opõe às medidas para conter as mudanças climáticas e reclamou do fato de que “muita gente não está respeitando o Acordo de Paris” (Trump é notadamente contra).

O presidente também disse que faltam lideranças hoje no mundo. “Um dos problemas que o mundo tem hoje é a ausência de lideranças. E, na ausência de lideranças, tudo que é de pior pode acontecer”, afirmou.

Além disso, ao defender que é preciso governar pensando nas pessoas mais pobres, o presidente brasileiro disse que “para um governante, andar de cabeça erguida é mais importante que um Prêmio Nobel”. Como é público e notório, Trump sonha em receber a honraria – ele esperava, inclusive, ser o ganhador do prêmio neste ano, que acabou indo para Maria Corina Machado, líder opositora venezuelana.

O discurso na residência oficial do primeiro-ministro Anwar Ibrahim, em Putrajaya, cidade vizinha a Kuala Lumpur, foi parte da programação da visita de Estado que Lula faz à Malásia antes da participação na reunião de cúpula da Asean. O presidente tinha nas mãos uma versão escrita, mas a deixou de lado e preferiu improvisar.

Mais tarde, ao sair do hotel para receber o título de doutor honoris causa da Universidade Nacional da Malásia, Lula disse estar otimista em relação ao encontro. “Trabalho com otimismo para que a gente possa encontrar uma solução”, disse.

Indagado pelo PlatôBR se está disposto a atender exigências de Trump, já que o americano declarou que pode rever o tarifaço “sob as circunstâncias certas”, o presidente respondeu que pretende apresentar os problemas e repetiu que está confiante em um desfecho positivo: “Não tem exigência dele e não tem exigência minha ainda. Eu vou colocar na mesa os problemas e vamos tentar encontrar uma solução. Então, pode ficar certo que vai ter uma solução”.

Lula passará o aniversário de 80 anos, nesta segunda-feira, 27, na Malásia. Brincando, ele disse que Trump pode participar da festa: “Eu acho que ele pode comer um pedacinho do bolo”.