A decisão do ministro Alexandre de Moraes de suspender nesta sexta-feira, 4, os atos do governo e do Congresso relativos ao aumento do IOF provoca uma pausa para reflexão política nas cúpulas dos poderes. O Planalto e o Parlamento vão preparar suas explicações e, no dia 15 de julho, terão representantes em uma audiência pública marcada pelo ministro. A decisão teve repercussão positiva entre os aliados do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e negativa do lado governista.

Ao longo da semana, a briga entre governo e Congresso por causa do aumento do IOF subiu de patamar tanto entre as autoridades quanto nas redes sociais. Como previsto, a AGU acionou o STF na terça-feira, 1º, com um pedido de declaração de constitucionalidade do decreto presidencial que elevou o imposto, medida derrubada pelo Legislativo. A judicialização desagradou à cúpula do Parlamento e representou mais um degrau na escalada de tensão entre os poderes. 

A crise ganhou tração nas redes sociais com uma campanha ostensiva contra o Congresso e, especialmente, contra Motta. Com uso de inteligência artificial, vídeos espalhados pela militância governista inundaram as principais plataformas digitais com duros ataques à pauta priorizada pelo Legislativo, como a rejeição da elevação do IOF, a resistência à taxação dos ricos e o aumento do número de deputados. Em um terreno onde o campo direitista leva larga vantagem, desta vez a esquerda conseguiu furar a própria bolha, chegou a outros públicos e virou notícia na imprensa. 

As peças retomaram o clima de “nós contra eles” de outros momentos da disputa política do país. Motta foi o primeiro a reclamar da polarização, mas mesmo assim passou os dias seguintes como alvo preferencial das postagens da esquerda, potencializadas por declarações de Lula sobre cobrar dos ricos para beneficiar os pobres. O ministro Fernando Haddad (Fazenda), também reforçou o discurso da distribuição de renda.

Com a escalada da briga, entrou em campo a “turma do deixa disso”. Pelo lado do governo, a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), se manifestaram publicamente em favor do Congresso. O ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-CE), padrinho político da eleição de Motta para a presidência da Câmara, pediu que os dois lados deem um passo à trás. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, falou em busca de consenso e, se não for possível, caberia ao tribunal tomar uma decisão. Nesta sexta, Moraes começou a decidir.

Em Lisboa, fórum de Gilmar arrastou a política brasileira
Com a presença de autoridades dos três poderes do Brasil, o Fórum de Lisboa arrastou para Portugal alguns personagens da trombada entre Planalto e Congresso no caso do aumento do IOF. As declarações de Lira e Barroso, por exemplo, foram feitas na cidade europeia, onde o ministro Gilmar Mendes promove anualmente para discutir temas relacionados à realidade brasileira..

Também em Lisboa, Hugo Motta avisou integrantes do governo que não quer esticar a briga, o ex-presidente Michel Temer (MDB) pediu mais diálogo entre os poderes no caso do IOF e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) procurou se mostrar moderado em discurso feito nesta sexta-feira no fórum.

Na reunião do Mercosul, Lula encontra Milei
O Brasil assumiu nesta quinta-feira, 3, a presidência do Mercosul para um mandato de seis meses. O cargo foi passado em Buenos Aires pelo presidente da Argentina, Javier Milei, para Lula. Embora os dois sejam adversários políticos, a cerimônia transcorreu sem embaraços.

Foi a primeira visita de Lula à Argentina desde a posse de Milei.

Polícia Federal prendeu suspeito de participação em ataque ao sistema Pix
Um funcionário terceirizado da empresa C&M foi preso pela Polícia Federal, suspeito de ter participado do ataque hacker que desviou mais de R$ 1 bilhão do sistema Pix. O homem disse à PF que repassou a outra pessoa o login e a senha que permitiram a maior invasão cibernética da história do Banco Central.

Este episódio demonstrou um flanco de fragilidade no sistema Pix. O rombo bilionário foi revelado pelo Brazil Journal. As suspeitas de participação de um funcionário da C&M foram antecipadas pelo PlatôBR.