STF ouve em silêncio a defesa dos que se acham inocentes
Fatos marcantes na esperada sessão do Supremo Tribunal Federal para ouvir depoimentos dos acusados de planejar um golpe de estado contra a democracia brasileira. Primeiro, o vazio intelectual dos depoentes e, segundo, a pobreza de argumentos apresentados por cada um deles, subestimando a inteligência da corte e da própria comunidade que acompanha com atenção o desdobramento do processo, caso a caso.
A estrela do espetáculo, o ex-presidente Jair Bolsonaro, apontado como chefe do grupo rebelde, se mostrou cândido, humilde e estranhamente submisso e cortês com o até então algoz, ministro Alexandre de Moraes. Caprichou na cortesia, e até convenceu algumas filhas de Maria de que de agora em diante será um outro cidadão.
Como manda o regimento, e as rígidas leis do Supremo, nesse caso em pauta não caberia ao relator questionar as argumentações apresentadas pelos acusados. A corte ouviu, registrou e agora segue o calendário jurídico. O encontro entre os ministros do Supremo e os acusados foi ameno, para alguns até bem mais do que o esperado. Contra os acusados de elaborar e executar um golpe para que Bolsonaro continuasse no poder há um histórico robusto de provas e argumentos. Inclusive vídeos, gravações, depoimentos e citações impressas.
Durante os depoimentos, nas sessões do STF nos dias 10 e 11, um rico cardápio de eventos e citações bem intencionadas foi apresentado ao relator do processo. Cardápio rico e devidamente chancelado com narrativas, sugestões, opções militares e talvez propostas de mudanças de conduta, caso o resultado das eleições levasse o país a uma possível convulsão.
Nenhum dos militares ou assessores ligados ao ex-presidente assumiu ou concordou com as denúncias de que, em algum momento, traçaram um esquema que levasse a um golpe de Estado. Em resumo, nunca se viu tanta gente inocente reunida em um só lugar, com um propósito comum de negar evidências, com argumentações pífias e, na maioria das vezes, com teorias absurdas.
Orientados por advogados, todos os acusados se esforçaram no quesito disciplina, tornando evidente o cuidado com as palavras e as respostas ao relator Alexandre de Moraes. Bolsonaro, inclusive, com um sorriso irônico, convidou o ministro que ele tanto odeia para ser seu candidato a vice, numa sonhada disputa pela Presidência da República. Jurou jamais ter imaginado qualquer atitude que ferisse a Constituição, e nunca passou pela sua cabeça liderar movimentos de apoio aos manifestantes acampados próximos aos quartéis do Exército.
Analistas políticos experientes e juristas com alguns quilômetros rodados nessa estrada, ao opinar sobre o assunto, se espantam apenas com a falta de seriedade com que muitos dos acusados se posicionaram diante da Corte. Para eles, nada demais aconteceu e nunca houve por parte de ninguém nenhuma intenção de aventar um golpe de Estado no País. Tudo não passou de narrativas mal interpretadas, alegam.
Triste momento da história, patéticas imagens registrando autoridades de variadas patentes, ouvindo sobre elas as mais bisonhas acusações. Imagens que, seja qual for o resultado do julgamento, jamais serão esquecidas pelas futuras gerações, e sempre estarão em um cenário pouco saudável a qualquer currículo, qualquer referência.
O fato é que haverá punições, constrangimentos, sentenças e algumas penitências serão pesadas. Não há como evitar que isso aconteça. Como também será impossível apagar essa mancha negra, definitivamente petrificada na história do País.
José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais
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