Entre os fatos que embasam as denúncias contra 34 suspeitos de tentativa de golpe de Estado estão os ataques desferidos ao longo dos últimos quatro anos por bolsonaristas a instituições democráticas - entre elas, o próprio STF. Agora, como tática de defesa, boa parte do grupo diz que confia na Justiça e muda a direção das críticas: o alvo passa a ser a PGR (Procuradoria-Geral da República), autora da denúncia.
A defesa de Jair Bolsonaro disse em nota que recebeu “com estarrecimento e indignação” a denúncia da PGR. Os advogados negam que o ex-presidente tenha compactuado com “qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito”.
Ainda segundo os advogados, não há na denúncia elemento que comprove a participação do presidente na suposta tentativa de golpe. A nota afirma que “Jair Bolsonaro confia na Justiça e, portanto, acredita que essa denúncia não prevalecerá por sua precariedade, incoerência e ausência de fatos verídicos”.
A denúncia será analisada pela Primeira Turma do STF. O processo tem a relatoria de Alexandre de Moraes. Na campanha de 2018, da qual saiu vitorioso, Bolsonaro desferiu críticas pesadas ao Judiciário. O costume permeou todo o mandado dele, iniciado no ano seguinte.
Bolsonaro atacou nominalmente ministros do Supremo em eventos públicos. Em 2021, o então presidente da República xingou o hoje presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, de “filho da puta”. Em 2022, chamou Moraes de “canalha” e anunciou que não cumpriria decisões proferidas pelo ministro.
O general Walter Braga Netto, que foi ministro da Defesa de Bolsonaro e candidato a vice na chapa dele em 2022, foi denunciado como integrante do núcleo de uma organização criminosa chefiada por Bolsonaro montada para aplicar um golpe de Estado. A defesa do militar também atacou a PGR e declarou depositar suas esperanças no STF.
À imprensa, o advogado José Luís de Oliveira reclamou que a PGR e a Polícia Federal “esqueceram o que é direito de defesa” e não ouviram seu cliente ao longo das investigações iniciais. Também chamou a denúncia de “pífia e fantasiosa”. Para completar, escreveu em uma nota: “A defesa confia na Corte, que o STF irá colocar essa malfadada investigação nos trilhos”.
Segundo a denúncia, Braga Netto entregou dinheiro vivo a militares das Forças Especiais, os chamados kids pretos, em embalagens de vinho. As cifras seriam usadas para financiar supostos planos de golpe de Estado após as eleições de 2022. Um dos planos incluía o assassinato de Moraes.