Até a semana passada, havia um clima de apatia pairando sobre o encontro nacional que o PT realiza neste final de semana em Brasília. A recente vitória da corrente majoritária CNB (Construindo um Novo Brasil) confirmou mais uma vez a hegemonia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o partido, que se traduziu na eleição do ex-ministro Edinho Silva (SP).

Entre as outras alas, as perdedoras, dominava a sensação de que não resta outra alternativa senão aceitar a força do grupo liderado por Lula – no máximo, o que havia nos últimos dias eram discussões sobre pequenas modificações na tese que será discutida e aprovada no encontro e que guiará a ação da legenda nos próximos anos.

Correntes mais à esquerda queixavam-se, por exemplo, de que as diretrizes defendidas pela CNB e por Edinho “não falam em socialismo”. Além de brigar por ajustes no texto, restavam as negociações para ocupar alguns postos de menor destaque na estrutura que comanda a sigla.

Até mesmo na programação do encontro, o 17º da história petista, a dominância do grupo de Lula estava refletida. O único ministro do governo com previsão de discursar era Fernando Haddad (Fazenda). É o ministro mais criticado pelos correligionários de outras tendências por sua postura considerada, digamos, mais conservadora, por defender o cumprimento da meta fiscal em detrimento da vontade dos setores internos que pedem mais gastos que possam se reverter em votos.

O clima de desânimo mudou, porém, com a crise deflagrada pelo tarifaço de Donald Trump e pela sanção imposta pela Casa Branca ao ministro Alexandre de Moraes. Em meio ao clima de apatia reinante na legenda até então, Lula acabou ganhando um motivo para mobilizar e unir a militância partidária. O presidente participará do encontro na manhã deste domingo, 3.

“Agora, Lula conseguiu um assunto novo que dá a ele um discurso. É o único líder mundial a enfrentar o Trump. Um discurso de soberania e em defesa do multilateralismo. Lula deve falar de desenvolvimento, de menor desemprego da história e do combate a fome. Ou seja, o ambiente agora tem tudo para que se tenha um encontro positivo”, disse uma fonte graduada do partido.

Outros problemas
Apesar da sacudida, o PT segue com problemas ainda sem solução. Um deles é a falta de uma liderança carismática que possa substituir Lula mais adiante na condução do partido. Como o próprio Edinho Silva tem dito, dificilmente as condições que forjaram o ativo político de Lula se repetirão no Brasil.

A construção de novos líderes não é problema da esquerda só no Brasil ou no PT, mas no mundo. Um dos desafios, observa um integrante do partido, é construir uma agenda capaz de fazer as pessoas se conectarem com temas como a desigualdade e a questão ambiental. “Trump nos ajuda por criar um antagonismo que nos permite marcar nossa posição”, disse um membro do partido, sob reserva.