A possibilidade de se tornar um dos fornecedores mundiais de minerais essenciais para indústrias de destaque na atualidade, como a eletrônica e a de carros elétricos, chamou a atenção do governo brasileiro diante da guerra comercial desencadeada pelos Estados Unidos. A equipe do vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) tem questionado empresários do setor da siderurgia e mineração para mapear o interesse deles neste segmento. A ideia é identificar se existe, de fato, uma oportunidade para o setor privado brasileiro agregar valor a um recurso mineral abundante no país.
O Brasil possui a terceira maior reserva global de terras raras, como são chamados os minerais com características específicas e diferenciadas que fazem com que eles funcionem como uma espécie de pó de pirlimpimpim para a indústria. Isso porque, usados em pequenas quantidades, esses materiais servem para melhorar as propriedades de outros elementos químicos ajudando, por exemplo, a aumentar o magnetismo necessário para a fabricação de caixas de som e de sistemas de áudio nos celulares. Ou, ainda, tornando o aço mais resistente, o que ajuda na produção de chapas mais finas e leves para serem utilizadas na fabricação de carros.
A China tem a maior reserva mundial de terras raras (40%). Em segundo lugar fica o Vietnã (20%) e, em terceiro, o Brasil (19%). No quarto lugar está a Rússia, com menos da metade do total brasileiro (9,1%), segundo relatório do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).
O diretor do Ibram Júlio Nery (Assuntos Minerais) explica que esses elementos nunca são encontrados de forma isolada na natureza e que, da exploração brasileira, são produzidos “concentrados”. No entanto, para ser utilizado pela indústria ainda é preciso passar por um processamento até chegar aos elementos finais. “A China decidiu ser a fábrica do mundo e responde por 95% de tudo o que é usado de terras raras”, afirma o diretor.
Segundo ele, essa foi uma opção do país asiático, que enxergou potencial para a indústria eletrônica há algumas décadas e criou uma política para industrialização dos minerais. Um dos fatores que pesou para boa parte dos países não seguir o mesmo caminho foi o fator poluição. Nery explica que se trata de uma indústria poluente. “Muitos países avaliaram que era um processo ambientalmente difícil e preferiram comprar direto o produto”.
Segundo um alto executivo da indústria, o governo vem demonstrando grande interesse em desenvolver esse setor internamente. O problema, segundo ele, é que os investimentos são elevados e seria preciso uma política de incentivos. Uma alternativa, diz, é o governo colocar isso na mesa de negociação com os EUA. Eles poderiam financiar as fábricas para processar a massa que é retirada da natureza e exportar para os americanos.
O governo quer que o setor privado corra o risco sozinho, segundo o executivo. Para ele, há uma dose grande de incerteza sobre viabilidade. "São projetos caros que poderiam contar com suporte dos Estados Unidos”, diz.
Arma poderosa
Com o monopólio da industrialização dos minerais de terras raras, a China tem uma poderosa arma na mão na guerra desencadeada pela política protecionista de Donald Trump, que taxou com tarifa de 145% todas as importações dos chineses. Nesta segunda-feira, Pequim anunciou que irá suspender as exportações dos minerais, que são insumos para setores-chave para os americanos, como os de mísseis, drones militares, aviões e carros.
O envio dos produtos chineses está suspenso até que o governo divulgue a nova regra que irá determinar quais empresas podem exportar para quais destinos. Foi um sinal para a gestão Donald Trump de que, se não houver recuo na taxação, as principais indústrias americanas ficarão comprometidas. O presidente dos Estados Unidos chegou a dizer no final de semana que o tarifaço seria aliviado para todos os produtos eletrônicos. Na sequência, porém, voltou atrás e afirmou que isso não se aplicaria à China. Agora, o mundo espera a publicação da regra pela equipe de Trump para ver o próximo movimento chinês.