O ex-presidente Jair Bolsonaro apareceu de frente ao ministro Alexandre de Moraes repaginado. Não era o mesmo das lives nem o mesmo dos discursos feitos para os apoiadores. Estava mais manso e chegou a pedir desculpas ao ministro porque, quando era presidente da República, disse que Alexandre de Moraes tinha recebido 50 milhões de dólares de maneira ilegal.
A mansidão é parte da estratégia jurídica para escapar da condenação. Não deve funcionar. No depoimento, Bolsonaro admitiu que planejou uma forma de continuar no poder mesmo tendo sido derrotado nas urnas. Não quis chamar isso de tentativa de golpe, mas para a procuradoria-geral da República e para ministros do STF, isso é planejar um golpe de Estado.
Questionado sobre os áudios em que xingava ministros e tramava um golpe, Bolsonaro disse que tudo não passou de retórica. Justificou o comportamento dizendo que é “estourado” mesmo, e que está tentando controlar isso.
Bolsonaro aproveitou para falar também aos apoiadores. Em tom de brincadeira, convidou Moraes para ser vice em sua chapa em 2026. Foi uma forma de dizer que politicamente não está morto e tem sim intenção de participar ativamente da disputa presidencial. Detalhe: ele está inelegível até 2030, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral.
Bolsonaro também usou a transmissão da sessão para relembrar seus feitos na Presidência da República. O tom do depoimento indica que, apesar de juridicamente comprometido, o ex-presidente não desistiu da vida política – ainda que, na nova fase, se apresente aos apoiadores de forma menos estourada.