A pauta da anistia saiu das mãos dos bolsonaristas para virar dosimetria nas mãos do Centrão. Reformulada pelo grupo suprapartidário, a proposta continua assombrando o governo. Se a intenção do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ao levar o requerimento de urgência para a anistia ao plenário, era descontaminar o ambiente para dar lugar a matérias que realmente interessam à população, a estratégia não funcionou.

Pelo contrário, a dosimetria continua emperrando a pauta prioritária do governo. A proposta também desagrada à oposição, por não prever o perdão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Nesta semana, o relator do projeto, deputado Paulinho da Força (SD-SP), procurou as bancadas dos principais partidos na Câmara em busca de apoio para a dosimetria. A maior resistência é dos aliados de Bolsonaro, mais concentrados no PL, e do PT. O relator ainda negocia com o Motta a possibilidade de colocar a proposta em votação na próxima semana, se possível na terça-feira, 30.

Antes, a ideia de Motta e de Paulinho era levar o projeto ao plenário nesta semana. Mas a falta de apoio e a proximidade com as manifestações que tomaram as ruas no domingo passado fizeram com que os dois desistissem de submeter o texto aos deputados. 

Na quarta, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), após se reunir com Paulinho da Força, demonstrou preocupação com a possibilidade de a dosimetria contaminar o ambiente político na semana que vem e, com isso, a Câmara, mais uma vez, deixar de apreciar a proposta que isenta do pagamento do Imposto de Renda as pessoas que ganham mais que R$ 5 mil. “Se a gente tumultua colocando um tema como este [revisão de penas], a chance de não votar o Imposto de Renda é grande, até porque sabemos que, quando for discutida a revisão de penas, o PL apresentará um destaque de anistia ampla, geral e irrestrita”, afirmou o líder petista.

Paulinho rebateu dizendo que uma eventual decisão de não votar o “PL da Dosimetria” pode inviabilizar a análise da prioridade do Planalto. “Acho que, se não votar isso [dosimetria], não vota nem o IR”, disse ao sair da conversa com os petistas.

Depois do encontro com a bancada do PT, Paulinho também buscou os tucanos que são a favor da proposta, principalmente o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), que participou da reunião na casa do ex-presidente Michel Temer, na semana passada, para falar sobre o assunto. Aécio defendeu levar a matéria a votação na próxima semana. “O deputado Paulinho buscou o caminho da dosimetria e acho que vamos ter uma votação surpreendente na semana que vem”, disse o deputado.