A transição energética brasileira carrega uma fragilidade estrutural: a ausência dos estados e municípios, que ainda não têm capacidade mínima para implementar políticas de prevenção e adaptação. Metade sequer possui estrutura para lidar com desastres.

Para investigar essa lacuna, a FGV Earth conseguiu financiamento de 200 mil libras da British Academy, cerca de R$ 1,4 milhão, e vai mapear, até 2027, como 20 cidades podem se preparar para os impactos ambientais. O estudo pretende oferecer diretrizes de políticas que articulem os diferentes níveis de governo.

“Se [a política de transição energética] ficar só em Brasília, é dinheiro jogado fora. Os níveis subnacionais precisam estar preparados e incluídos, se não a execução falha”, disse à coluna o pesquisador José Antônio Puppim, coordenador do núcleo de Cidades do FGV Earth.

Ele lembra que o Brasil costuma ser celebrado pela matriz elétrica renovável e diversificada — com bioetanol, eólica e hidrelétrica — mas convive com gargalos básicos que fragilizam a transição.

“Avançamos em energia, mas seguimos atrasados em áreas como saneamento e descarte de resíduos. Não há mudança estrutural possível sem enfrentar essas desigualdades.”