Há 56 anos, as comemorações do 7 de Setembro aconteceram em clima de grande tensão no país: em plena ditadura, o presidente Artur da Costa e Silva havia sofrido um derrame cerebral e o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, foi libertado naquele dia, depois de 72 horas em poder de guerrilheiros de organizações da esquerda armada. O problema de saúde afastou Costa e Silva definitivamente do cargo, substituído por uma junta militar. O embaixador ganhou a liberdade em troca da soltura de 15 presos políticos, enviados para o exílio.

Este ano, os desfiles da data cívica também têm características inusitadas, pois serão realizados no meio do julgamento histórico de um grupo de réus acusados de tentativa de golpe de Estado. Outro fato atípico marca o 203º Dia da Independência: o ex-presidente Jair Bolsonaro, um dos acusados do processo, encontra-se em prisão domiciliar em Brasília.

As circunstâncias atuais vão provocar uma situação curiosa na capital da República. No mesmo horário em que o presidente Lula e os chefes dos poderes Legislativo e do Judiciário participam do desfile oficial na Esplanada dos Ministérios, apoiadores de Bolsonaro estarão concentrados na Torre de TV, a cerca de 5 quilômetros de distância.

Com o julgamento dos réus da trama golpista em andamento, e o ex-presidente impossibilitado de sair às ruas, seus seguidores convocaram manifestações em cerca de 20 capitais e em grandes cidades do país. Em Brasília, as forças de segurança terão cerca de 4.500 policiais e militares na proteção do público.

Em alguns pontos, haverá revistas obrigatórias e proibição de objetos como substâncias inflamáveis, mastros de bandeira, fogos de artifício, coolers e barracas. Drones e 1.300 câmeras monitoradas por 70 operadores na central da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. A preocupação com a segurança é reforçada pelo histórico de distúrbios, como os episódios de 7 de setembro de 2021, e os atos antidemocráticos do 8 de Janeiro.

Em São Paulo, o ato na Avenida Paulista ocorre às 15h. Deve contar com a presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas. Líderes locais e movimentos conservadores convocam a população a defender pautas como liberdade de expressão, críticas ao Judiciário e apoio às medidas de Donald Trump, incluindo a aplicação da Lei Magnitsky contra autoridades brasileiras.

No Rio de Janeiro, os bolsonaristas se concentrarão na orla de Copacabana durante a manhã, enquanto atos menores ocorrem em outras cidades, como Recife, Teresina, Florianópolis e Salvador. Em todas as manifestações, a pauta comum envolve questionamentos às investigações contra o ex-presidente, defesa de aliados e a reivindicação de anistia para detidos politicamente.

Lula almoçou com comandantes militares
Nesta sexta-feira, 5, Lula recebeu para um churrasco no Palácio da Alvorada os atuais comandantes das Forças Armadas e também militares que ocuparam esses cargos em seus governos anteriores. O encontro com a cúpula militar foi sugerido pelo ministro José Múcio (Defesa) e Lula pediu para convidar também dos ex-subordinados.

A presença dos chefes e ex-chefes militares com Lula na residência oficial nesse momento tem dupla simbologia. Primeiro, por acontecer nas vésperas do 7 de setembro, data tradicionalmente celebrada pelas Forças Armadas, que se apresentam em desfiles e com os comandantes ao lado do presidente em um palanque em Brasília.

Em segundo lugar, pelo fato de a data cívica ser comemorada no meio do julgamento de Bolsonaro, capitão reformado do Exército que governou o Brasil com forte participação de militares em sua equipe. No total, 22 réus considerados líderes da trama golpista têm origem fardada.

As investigações do processo mostraram que Bolsonaro não conseguiu nas Forças Armadas o apoio necessário para continuar no poder depois de perder as eleições para Lula. Nessas circunstâncias, o almoço no Alvorada reforça a ideia de normalidade nas relações entre o petista e a caserna.