Um passado sombrio, um futuro incerto
Todos concordamos. Está ficando chato e repetitivo esse lenga-lenga sobre o que o INSS vai fazer, ou deixar de fazer, para decidir de vez quais as reais providências serão adotadas que amenizem o dano causado a quase 6 milhões de aposentados em todo o País. Sabemos, claro, que está em curso um plano que, se bem executado, tende a identificar nomes de pessoas prejudicadas, e apontar os culpados por isso. Pelo histórico traçado pelo órgão ao longo do tempo, tudo indica que nada é pra já. Exceto, dúvidas. Há dúvidas sobre como será o processo que confirmará a veracidade de denúncias; dúvidas sobre o montante do prejuízo; e, principalmente, quando o segurado terá seu dinheiro de volta.
A comunicação do Governo, sempre alvo de críticas pela lentidão, e necessariamente submetida às determinações burocráticas obsoletas, faz o que o manual determina. E esse manual, sabidamente, contraria em parte, ou integralmente, coisas que em comunicação são sagradas: agilidade e precisão. Resvala no absurdo a forma como a instituição ainda não percebeu que a utilização de apenas um ramal (135), destinado a atender o contribuinte, é ineficaz, insuficiente e mais prejudica do que ajuda.
Submete as pessoas a uma espera de até uma hora penduradas ao telefone, e em muitos casos encaminha o cidadão a busca de outros recursos. Diante do caos, ora em andamento, o mínimo que se esperava era que pelo menos essa aberração fosse revisada. Não foi, e parece que não será. O certo seria a ampliação e melhor capacitação desse mecanismo de ajuda, começando pelo aumento do número de ramais e opções de atendimento ao público. Uma vez que o contato físico nos postos de atendimento também foi cancelado, limitar o socorro à comunidade apenas pela via digital atesta a fragilidade e ignorância quando o item de boa gestão é colocado na mesa.
O resultado disso tudo é o acúmulo de trabalho para servidores, transtorno e irritação aos usuários e uma evidente prorrogação de uma crise que parece nunca ter fim. A modernidade tecnológica parece caminhar em direção oposta ao que se pede para que uma entidade de tamanha importância alcance bons resultados.
É evidente que, em todo esse processo, há um número elevado de pessoas responsáveis e interessadas em achar de vez as respostas que a comunidade espera. Elas também são vítimas, prejudicadas por uma burocracia retrógrada que impede avanços. A política do deixa estar pra ver como é que fica está na cartilha de trabalho de muitos órgãos públicos do nosso País.
Isso é verdade, negue quem quiser. Estamos hoje debatendo um assunto que ao longo dos anos vem sendo pautado, questionado e que nunca mereceu do governo alguma providência severa e bem administrada. Agora, na mira de CPIs, na boca do povo como órgão irresponsável, carente de administradores capacitados e motivo de charges e piadas de mau gosto, o INSS cruza a reta de chegada desacreditado e mal visto por aqueles que, em muitos casos, depositaram esperança.
Esse escândalo, ainda bem longe de ser esclarecido totalmente, joga no colo do governo um pacote de problemas nada fáceis de serem resolvidos. Afeta a economia, a política social, a saúde pública e sinaliza ambiente sombrio e perturbador para as disputas eleitorais do ano que vem.
Em curso o mapeamento que o INSS faz para saber quem perdeu o que, e foi roubado por quem. A única coisa que o governo sabe, com exatidão até agora, é que não sabe nada.
José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais
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