Em “Mulher de pouca fé”, a escritora Simone Campos conta a história de uma menina autista — que só descobriu esse diagnóstico aos 37 anos — e sua relação com a igreja evangélica, desde o deslumbramento, ainda menina, até o rompimento com a religião. Simone mostra como era ser crente em meio à classe média carioca nos anos 90 e como uma igreja pentecostal a acolheu.

É na juventude que Simone Campos começa a questionar os dogmas de sua igreja, ao lidar com temas como a sexualidade e o interesse pelas artes não contempladas pela igreja. Assim, aquela igreja sai do lugar do acolhimento e passa a ser uma privação.

O livro, que sai em junho pela Companhia das Letras, é uma ficção inspirada na própria história da autora e de comportamentos e sentimentos que ela só passou a entender quando foi diagnosticada com transtornos do espectro do autismo. “No meu caso, isso significava rigidez de pensamento, franqueza extrema e paixão por regras como forma de organizar o mundo. Tais regras, porém, tinham que ser bem explicadas”, escreve Simone, que explicou como se sentiu ao ser diagnosticada: “Então muita coisa fez sentido, posta sob essa nova luz. Percebi que não ter tido o diagnóstico enquanto crescia produziu incontáveis mal‑entendidos e uma excessiva vulnerabilidade, o que moldou meu caráter”.

Simone Campos é autora de “No shopping”, “A feia noite”, “A vez de morrer” e “Nada vai acontecer com você”. Para ela, foi difícil decidir se, nesta obra, contaria a sua própria história. “No início, eu não queria me colocar como personagem, mas percebi que contar uma história como essa só faria sentido de um ponto de vista muito particular: o meu”, escreveu ela no livro.