No lugar das habituais telas do cinema, o cineasta Rapha Erichsen decidiu contar a história de um dos maiores mistérios da Amazônia em um livro. Uma civilização milenar em um grande império hispânico, com túneis subterrâneos que abrigam pirâmides e riquezas escondidas na maior floresta tropical do mundo. “O enigma de Akakor: farsas e segredos na Floresta Amazônica” chega às prateleiras pela editora Faria e Silva.

A existência de uma cidade pré-colombiana no meio da Amazônia percorre o mundo desde os anos 1970: ganhou notoriedade com a publicação do livro “A crônica de Akakor” (1976), do jornalista alemão Karl Brugger, inspirou o filme “Indiana Jones e o reino da caveira de cristal” (2008) e foi amplamente noticiada em grandes veículos e programas brasileiros, como o Fantástico e a Veja.

Erichsen contou à coluna que resolveu dar uma nova roupagem para a história, dando destaque às peças que não se encaixam no quebra-cabeça. Uma abordagem diferente de Brugger, precursor da fábula amazônica. Pouco antes de ser assassinado na praia de Ipanema em 1984, o jornalista alemão havia decidido se aposentar e finalmente encontrar Akakor.

“Além do livro de Brugger, que morreu acreditando que a cidade existia, não há muitas outras informações documentadas. Então procurei ir além do que ele tomou como verdade”, explicou Erichsen. “Conto a história por trás do livro. O que é, na verdade, uma grande farsa. A história, e tudo em volta dela, é repleta de farsantes e picaretas”.

História que hipnotiza

Rapha Erichsen foi fisgado pelo mistério de Akakor ao encontrar o livro de Brugger na biblioteca do cineasta Jorge Bodanzky. A cena é quase de cinema. Ao pegar o belo livro de capa dourada na estante, Bodanzky o tomou das mãos de Erichsen e o orientou a não mexer naquilo. Afinal, Brugger, de quem Bodanzky era amigo, havia sido assassinado pouco antes de retomar as expedições em busca de Akakor. “Fui fisgado pela história e não consegui mais sair dela.”

Erichsen disse que quem começa a pesquisar a fundo sobre o mito de Akakor parece ser hipnotizado pelos segredos e a curiosidade, como ele próprio e diversos aventureiros estrangeiros que vão à Floresta Amazônica em busca do império milenar desde os anos 1970. Há uma suposta ligação, sem provas, de Akakor com expedições nazistas na selva durante a Segunda Guerra Mundial. Historiadores guiados por para explorar a área nunca mais voltaram: o americano John Reed em 1980, o suíço Herbert Wanner em 1983 e a sueca Christine Heuser em 1987.

“É uma história que não morre nunca. Até hoje existem pessoas que vão à Amazônia para caçar o lugar. Mas essa história começou na época de um Brasil sob a ditadura, então há uma cortina de fumaça aí que deixa muita coisa mal explicada mesmo”, destacou Erichsen.