Os deputados federais Carlos Jordy e Sóstenes Cavalcante, ambos do PL do Rio de Janeiro, acumularam, juntos, R$ 742,3 mil em despesas com locação ou fretamento de veículos automotores desde o início da atual legislatura, em 2023, segundo levantamento a partir de dados do Portal da Transparência da Câmara dos Deputados. Os gastos são o principal eixo da investigação que levou a Polícia Federal (PF) a deflagrar, nesta sexta-feira, 19, uma operação contra endereços ligados aos parlamentares.
Desde janeiro de 2023, Carlos Jordy declarou R$ 328 mil em despesas com aluguel de veículos, o que corresponde a uma média mensal de R$ 10,5 mil. Os gastos seguem padrão recorrente, com valores entre R$ 10 mil e R$ 12,7 mil por mês, com pico de R$ 12,7 mil em novembro e dezembro de 2024.
No mesmo intervalo, Sóstenes Cavalcante registrou R$ 414,3 mil, com média mensal de aproximadamente R$ 11,8 mil, em valores próximos de R$ 12,7 mil ao longo da maior parte da legislatura.
Desde o início da atual legislatura, em 2023, Sóstenes Cavalcante contratou seis empresas para serviços de locação ou fretamento de veículos. A Ilha Locação de Veículos recebeu R$ 130,5 mil, enquanto a Amazon Serviços e Construções foi paga em R$ 116,5 mil. Também constam nos registros pagamentos à Harue Locação de Veículos, que recebeu R$ 48,1 mil; à Alfa Auto Car Locadora de Veículo, com R$ 32,2 mil, à Shekinah Locação de Veículos, com R$ 47 mil, e à Maior Med Soluções em Saúde, que recebeu R$ 40 mil do gabinete do parlamentar.
No mesmo período, Carlos Jordy contratou cinco empresas para a mesma finalidade. A Tagg Services recebeu R$ 98 mil; a Segbrasil Comércio e Serviços, R$ 87,1 mil; a Pantanal Veículos, R$ 49,5 mil; a Harue Locação de Veículos, R$ 70 mil; e a Alfa Auto Car Locadora de Veículos, R$ 23,4 mil.
A operação desta sexta-feira cumpre sete mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e no Rio de Janeiro, por determinação do ministro Flávio Dino, relator do caso no STF. Durante as diligências, a PF apreendeu cerca de R$ 430 mil em dinheiro em espécie em um endereço ligado a Sóstenes, em Brasília.
Segundo a investigação, o suposto esquema envolvia o uso irregular da cota parlamentar destinada ao aluguel de veículos, por meio de contratos simulados com empresas de locação, algumas delas apontadas como empresas de fachada.
Os recursos públicos teriam sido desviados e posteriormente ocultados por meio de operações de lavagem de dinheiro. A PF apura os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A ofensiva contra os deputados é um desdobramento direto de uma operação realizada exatamente um ano antes, em 19 de dezembro de 2024, quando a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra assessores parlamentares ligados a Jordy e Sóstenes. Naquela fase, a investigação já apontava um suposto “acordo ilícito” entre agentes públicos e empresários para o desvio de recursos da cota parlamentar por meio de contratos falsos de locação de veículos.
À época, a PF chegou a solicitar autorização para medidas contra os próprios parlamentares. No entanto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou contra, avaliando que não havia indícios suficientes de que os deputados tivessem participação direta ou conhecimento das irregularidades. O ministro Flávio Dino seguiu o parecer da PGR e autorizou apenas diligências contra os assessores.
Com o avanço da apuração ao longo de 2025, incluindo análise de movimentações financeiras e fluxos de recursos, a PF pediu uma nova autorização ao Supremo, desta vez mirando endereços ligados diretamente aos parlamentares.
Sóstenes é líder do PL na Câmara dos Deputados, partido com a maior bancada da Casa. Carlos Jordy é deputado federal pelo Rio de Janeiro e foi candidato à Prefeitura de Niterói nas eleições municipais do ano passado.
Nas redes sociais, Carlos Jordy afirmou ser alvo de uma “perseguição implacável” e acusou a investigação de “pesca probatória”. Sóstenes Cavalcante ainda não se manifestou nesta sexta-feira. Na ocasião da operação contra assessores, em 2024, ele afirmou “não ter nada a esconder” e mencionou a possibilidade de perseguição política.
