O Palácio do Planalto tem nessa semana de esforço concentrado do Congresso um teste importante para saber qual será o tamanho da sua base, depois dos movimentos de desembarque de parte do PP e do União Brasil e do “pente-fino” que se seguiu, com demissões de indicados infiéis em ministérios, nas autarquias e em estatais. O primeiro teste é esperado para essa noite, quando a Câmara poderá votar o projeto de lei PL-458/2021, sob relatoria do deputado federal e ex-ministro das Comunicações Juscelino Filho (União Brasil-MA), que trata da regularização patrimonial.
Nesse caso, em acordo com o governo, o deputado aceitou “carregar” a proposta com o pacote fiscal do ministro Fernando Haddad (Fazenda), feito para compensar a derrubada da medida provisória 1303, que poderia render ao governo cerca de R$ 35 bilhões em arrecadação e que perdeu a validade sem ser votada pela Câmara.
A estratégia de levar as medidas para o PL de Juscelino Filho, aproveitando a tramitação já ocorrida, foi tomada ao longo da segunda-feira, 28, pela equipe econômica, em conversa com os parlamentares e com a articulação da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais).
“Achamos que tinha mais a ver”, disse um membro do Planalto. Antes, a ideia era incluir as propostas de corte de gastos no projeto relatado pelo deputado Kiko Celeguim (PT-SP), texto que torna crime hediondo a adulteração de alimentos e bebidas. Nesse caso, o “jabuti” ficaria muito evidente e poderia encontrar mais resistência de parlamentares.
Para o governo, a semana inaugura uma mudança de eixo nas conversas com a Câmara. Se, antes, elas passavam muito mais por uma interlocução com o deputado Arthur Lira (PP-AL), que foi relator da proposta que modifica a cobrança do Imposto de Renda, agora, o governo já considera ter no presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), seu interlocutor privilegiado e comprometido com a aprovação das matérias econômicas.
Motta participou das conversas de Gleisi com o PP, o União Brasil e o Republicanos, nas quais o governo cobrou fidelidade dos partidos e iniciou uma “recomposição” dos cargos para os filiados de cada legenda que teriam se comprometido em continuar na base. Na estratégia do Planalto, esses acordos devem ser replicados nas eleições de 2026, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará se reeleger para um quarto mandato.
O divisor de águas para o governo em relação à base se deu com a derrubada a MP pela Câmara, mesmo após os recados emitidos pelo Planalto de que se tratava de uma votação importante para o governo e que não seriam toleradas traições. Essas exigências de fidelidade só puderam ser feitas agora, com a melhora da imagem do governo e de Lula mais nas pesquisas de opinião.
